Caminhadas preservam história das lutas do povo negro em Lauro Freitas
Duas caminhadas marcaram o final de semana em Lauro de Freitas como parte da programação do Novembro Negro. Em Itinga, grupos de dança, batuqueiros, alunos do Programa Escola Aberta, capoeiristas e o movimento hip hop estavam entre as mais de mil e 500 pessoas que participaram, no sábado à tarde, da 8ª Caminhada Cor da Cidade. No Quingoma, onde moram mais de 2 mil afro-descendentes, remanescentes de quilombolas, a V Caminhada do Quingoma, na manhã do último domingo, destacou a história de lutas do povo negro. Sob um sol de 31º, o cortejo subiu a ladeira do Quingoma de Dentro, puxada por estudantes, capoeiristas e o samba de roda Renascer. Durante o percurso, fizeram uma parada na Reserva Indígena Tha Fene, homenageada pelas sambadeiras. Para o secretário municipal da Educação, Paulo Aquino, esta ação integra a proposta do Programa Escola Aberta de socialização, abordagem étnica racial para os alunos, que presenciam uma aula viva no Quingoma.
Organizada pela comunidade com apoio da Secretarias Municipais de Educação, Cultura e Turismo, e de Governo a caminhada é uma manifestação de resistência de um povo forte e lutador. "Aproximadamente 80% dos nossos alunos são afro-descendentes e aqui estamos retratando e resgatando a história de cada um deles” explica a diretora da Escola do Quingoma, Irineide Medina. Moradora há 68 anos da localidade, Eunice Melo disse que o samba de roda local é a maior prova de resistência do povo negro.
Cor da Cidade
Embalados pelos tambores dos grupos Aticun e Zambiã, os manifestantes afirmavam que ser negro não é uma questão de cor de pele e, sim, de identidade. A caminhada Cor da Cidade saiu do Terraplac, em direção ao Largo do Caranguejo. Durante o percurso, moradores assistiam e dançavam da sacada das casas, das janelas e nas ruas. A moradora Ane Maria de Jesus fez parte deste público que vibrava ao ouvir “Sou negra e tenho orgulho”. “Este momento é único, temos que fazer desta consciência uma rotina”, afirma.
Eriosvaldo Menezes, superintendente de Promoção da Igualdade Racial de Lauro de Freitas, disse que a caminhada é o resgate da juventude negra e do povo de Santo. Segundo Menezes, pela primeira vez no município as políticas públicas de promoção da Igualdade Racial são prioridade em uma gestão. “Temos 156 mil habitantes, 82% de negros e afros descendentes, então, precisamos ser ouvidos e respeitados”, afirma.
Yogi Nkrumda, coordenador do movimento PCE- Posse de Conscientização e Expressão, explica que a caminhada é um momento de reflexão, voltada para articulações políticas dos movimentos negros do município, que busca sensibilizar as pessoas para a mensagem de que ser negro é orgulho e não motivo de vergonha e discriminação. Segundo Ricardo Andrade, do Movimento Hip Hop e do PCE, um dos marcos da mobilização é trazer à tona a situação de marginalidade do negro, através do resgate da cultura afro.
Fonte: AgendaLauro 27/11/2009